Modelo Padrão - Parte 6
Vamos continuar a desvendar o Modelo Padrão?
Na última postagem faltou falarmos das partículas mediadoras não é mesmo?
As partículas mediadoras são responsáveis pelas interações entre
as partículas. Precisamos então saber quais são os tipos de interações
fundamentais presentes na natureza, que são as seguintes: interação gravitacional, interação eletromagnética, interação forte e interação fraca. Elas se manifestam através da força gravitacional, força eletromagnética,
força forte e força fraca respectivamente. Todas as demais forças que
conhecemos (força elástica, força normal, força de atrito, força elétrica etc)
são derivadas destas quatro forças fundamentais. Mas para que a mensagem da
força seja transmitida de uma partícula para outra é necessário algum
mensageiro. Aí é que entram em ação as partículas
mediadoras, também chamadas de partículas
de força ou bósons de calibre.
Então as partículas interagem trocando partículas entre si.
Para a interação eletromagnética a partícula
mediadora é o fóton. Sabemos que
objetos com cargas elétricas iguais se repelem e com cargas opostas se atraem.
Também sabemos que os pólos iguais de imãs se repelem e pólos opostos se
atraem. Nestes exemplos a força
eletromagnética está presente. A força se manifesta por conta da troca de
fótons entre as partículas. Temos fótons de quantidades diferentes de energia
(ondas de rádio, micro ondas, infravermelho, luz visível, ultravioleta, raio X
e raio gama) como vemos no espectro eletromagnético abaixo:
Figura 1: Espectro eletromagnético
Os fótons não possuem massa e sua velocidade no vácuo é a
velocidade da luz (300.000 km/s ou 3. 108 m/s).
A interação eletromagnética também é
responsável por manter átomo juntos para formarem moléculas. Se formos pensar
bem, os átomos na sua maioria tem carga elétrica neutra, pois possuem mesma
quantidade de elétrons e de prótons. O que se observa é que os elétrons de um
átomo são atraídos pelos prótons de outro átomo, o que permite então que os
átomos sejam atraídos mutuamente, mesmo tendo carga elétrica nula. Chamamos
isso de interação eletromagnética
residual. Se este fato não acontecesse, não se formariam moléculas e
estruturas conhecidas no Universo.
A interação forte por sua vez tem o glúon como partícula mediadora. Você já
se perguntou como é que o núcleo de um átomo fica coeso, sendo que lá existem
prótons com carga elétrica positiva? Nós sabemos que cargas iguais se
repelem... Aí entra em ação a força
forte, que é uma força de curto alcance. Se formos olhar para os prótons e
nêutrons constituintes do núcleo, sabemos que cada um deles é formado por 3
quarks. Estes por sua vez tem carga de cor e a força de atração que estas
cargas de cor tem entre si é bastante forte. Os glúons são como se fossem um
tipo de cola que mantêm os quarks confinados dentro dos hádrons.
Porém, como
vimos anteriormente, cada um dos 3 quarks possui uma cor diferente, que juntas,
resultam a cor branca, ou seja, com carga neutra de cor. Como se explica o
núcleo ficar coeso então? Isso ocorre pois a força forte dentro dos hádrons
consegue superar a força eletromagnética de repulsão entre os prótons. Chamamos
isso de interação forte residual,
permitindo então que o núcleo fique coeso.
A interação fraca é mediada pelas
partículas W e Z. Esta interação é responsável pelo decaimento de léptons e quarks
da segunda e terceira gerações em versões mais leves da primeira geração.
A última
interação das quatro fundamentais é a interação gravitacional, que tem o gráviton como partícula mediadora
teoricamente, porém até o momento não foi detectado. Nós estudamos a força
gravitacional entre corpos que possuem massa na escola. Mas até o fóton que não
possui massa também é influenciado pela gravitação. O Modelo Padrão não
consegue explicar esta interação muito bem como a Teoria da Relatividade Geral
o faz. Mas como os efeitos desta interação são desprezíveis no nível
subatômico, este problema de não saber descrevê-la inteiramente acaba não
atrapalhando os avanços da teoria.
Para termos uma
ideia da intensidade destas forças fundamentais, supondo que a força forte
tenha intensidade 1, vejamos no quadro abaixo a comparação com as demais forças:
Forças da Natureza
|
|||
Tipo
|
Intensidade Relativa
|
Partícula mediadora
|
Exemplos
|
Força nuclear forte
|
1
|
glúons (sem massa)
|
núcleos dos átomos
|
Força eletromagnética
|
≅ 10-2
|
fótons (sem massa)
|
átomos, eletricidade
|
Força nuclear fraca
|
≅ 10-12
|
Bósons Z e W (pesados)
|
decaimento beta
|
Força gravitacional
|
≅ 10-38
|
gráviton (ainda não
detectado)
|
corpos com massa
|
Figura 2: Interações fundamentais – comparação entre intensidades.
Resumindo,
vimos que existem além de quarks e léptons, as partículas mediadoras das
interações fundamentais da natureza. Temos o fóton, os glúons (existem 8 tipos) e os bósons Z e W (este último pode
ter carga positiva ou negativa) já detectados. Destes totalizam mais 12
partículas elementares. Falta detectar o gráviton
e a confirmação de detecção do famoso bóson
de Higgs.
Vejamos abaixo uma tabela (ABDALLA, 2005) com todas as partículas elementares do
Modelo Padrão detectadas até hoje:
E aí? Vocês tinham noção de que já eram conhecidas 60 partículas elementares? Legal né?
Na próxima postagem, vamos falar um pouquinho mais sobre o Bóson de Higgs, que até caiu na prova da segunda fase da Unicamp deste ano. Para vocês verem como ele anda famoso!
Deixem seus comentários e dúvidas. Acompanhem!
Referências:
- ABDALLA, M.C.B. Sobre o discreto charme das partículas elementares. Física
na Escola, 2005 6(1): p. 38-44. Disponível em: http://www.sbfisica.org.br/fne/Vol6/Num1/charme.pdf
- http://www.sprace.org.br/aventuradasparticulas/index.html
- MOREIRA, M.A. O Modelo Padrão da Física de Partículas. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 31, n. 1, 1306, 2009.
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