História de Ficção de Giulia Hunger - Ômega
Caros leitores,
Vamos ler a primeira história de ficção escrita por uma de minhas alunas, a Giulia Hunger.
Quando ela escreveu esta história no ano passado ela estava no 1º B. Hoje ela iniciou o 2ºB na E. E. Patriarca da Independência em Vinhedo e continua sendo minha aluna.
Giulia é uma menina tímida, porém com muitos talentos! A cada dia descubro algo novo sobre ela! Sua história me impressionou! Muito bem escrita e que prende a atenção do começo ao fim.
Convido todos a ler esta belíssima história:
Ômega
As
estrelas pareciam brilhar mais naquele momento, como se a chegada de alguém há
muito esquecido estivesse próxima. Dentro
da enorme cúpula transparente, num pequeno planeta, distante anos-luz do nosso
Sol, coberto por uma superfície vulcânica, Ômega acordou. Ofuscado pela forte
luz do sol de seu sistema planetário, seus olhos se fecharam rapidamente, para
depois abrirem, vagarosamente. Olhos negros, pupilas estreladas, é difícil
descrever exatamente a cor dos olhos de Ômega. Seu corpo flutuava dentro de uma
esfera transparente, de aparência molhada, e rodeada de inúmeros cristais, das
mais variadas cores. Uma energia avermelhada emanava da esfera e a envolvia.
Ele
olhou para seu corpo, e percebeu que estava completamente diferente do que se
lembrava, ainda que essas lembranças fossem vagas. O formato do corpo ainda
lembrava os seres humanos, porém isso era tudo: sua pele possuía uma tonalidade
azulada, sem nenhum pelo em toda a extensão. Em vez de veias, parecia possuir
como se fosse linhas carregadas de energia, partindo do centro de seu peito,
onde, num ser humano, se localizaria o coração. Ômega estava confuso, devido às
vagas lembranças de seu passado, mas ao mesmo tempo uma sensação de conforto
dominava seu ser, como se ele pertencesse àquele lugar, e já estivesse ali há
muito tempo.
Subitamente,
uma abertura em formato oval começou a se formar à sua frente, na esfera. Se
sentiu compelido a sair, e assim o fez. Fora da esfera, avistou uma figura
semelhante a seu novo eu, com o corpo totalmente despido, dotado de belas
formas femininas. De suas costas, vários pares de linhas de energia se
projetavam, e se moviam lentamente, para cima e para baixo, como se fossem um
par de asas. A fêmea flutuava à sua frente, e assim que tocou o chão, suas asas
desapareceram. Ela se aproximou de Ômega, e lhe deu um forte abraço.
- Bem vindo novamente, meu irmão.
Que bom que seu exílio acabou. Mesmo que o tempo dos humanos mortais pareça
curto aos nossos olhos, para mim a sua ausência foi como uma eternidade.
Ela
falava num idioma estranho, mas Ômega a compreendia, mesmo sem nunca ter ouvido
o idioma antes - ou pelo menos é o que ele pensava. Sua voz era doce, como uma
sinfonia tocada pela mais bela orquestra. Seu abraço, caloroso, como o ardente
sol do deserto.
Ao
tocá-la, Ômega se lembrou de sua irmã, Zeta. As memórias aos poucos voltavam
para ele: sua infância, os tempos em que cruzavam os céus da grande galáxia de
Andrômeda, passando por planetas, luas, cometas, e infinitos corpos celestes,
cada um com suas características peculiares e suas belezas únicas.
- Zeta, que saudades - disse Ômega,
no mesmo idioma que sua irmã lhe falara. Continuaram abraçados por algum tempo,
até que se separaram, cada um com um sorriso imenso estampado no rosto.
Sua
irmã então fitou seus olhos, e lhe dirigiu a palavra num tom de voz mais grave:
- Meu irmão, depois de todo esse
tempo, você finalmente se arrependeu do que fez? Ou seu amor pelos mortais
ainda é grande a ponto de você sacrificar tudo por eles? Tudo, incluindo sua
eternidade, o amor de sua irmã, de sua família, ou até mesmo a grandeza do
universo?
Ômega
lembrou-se de Faerûn, o planeta que tanto protegera no passado. Se virou,
olhando fixamente para o céu, as estrelas, e se lembrou do que tinha feito, a
causa de seu longo período de exílio.
Cerca
de cem anos terrestres no passado, Ômega era o guardião celestial do sistema de
Abeir-Toril, um dos setores populacionais mais importantes da galáxia de
Andrômeda. O jovem ravenloftiano, ainda inexperiente, ficou fascinado com a
riqueza cultural dos povos dos planetas de Faerûn e de Palanthas. Mesmo sabendo
que as leis de seu povo impediam que um ravenloftiano interferisse sobre os
mortais diretamente, Ômega se rendeu à paixão e desceu em Faerûn, num corpo
mortal, para sentir de perto tudo o que os mortais sentiam e ele podia apenas
imaginar. Como punição, ao ser descoberto, ele foi condenado a ficar preso em
sua forma mortal, num planeta distante e isolado, por cerca de 80 anos, a
expectativa de vida de um faerûniano.
Voltando
a si, Ômega respondeu à irmã:
- Não, minha querida irmã, não me
arrependi - Sorriu, e suas asas de energia se materializaram - para mim, o
tempo que passei como mortal, cada experiência, cada perigo que corri, tudo
valeu a pena. Mas eu não faria isso novamente, antes que me pergunte. Meu maior
castigo, porém, não foi me afastarem das estrelas, como pensaram que me
serviria de punição, mas sim me afastarem daqueles que mais amo no universo:
você e os mortais.
Dizendo isso, ele se despediu de sua
irmã e partiu velozmente para o centro da galáxia. Ômega estava ansioso para
voltar a observar e vigiar, ainda que de longe, aqueles seres tão frágeis, tão
minúsculos comparados a ele, mas que possuíam sentimentos e emoções tão fortes
e nobres. Sua luz se misturou às infinitas estrelas do céu, por um breve
instante, e foi sumindo lentamente, à medida em que se distanciava do planeta
onde Zeta permanecia, imóvel, observando sua partida.
A bela ravenloftiana se comoveu ao
entender as palavras do irmão. Estava extremamente feliz por tê-lo de volta em
sua vida, e grata a todos os mortais daquele planetinha azul, Faerûn, que os
habitantes chamavam de Terra, por partilharem do amor de Ômega.
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